A transformação de conceitos: Uma reflexão sobre doenças mentais e empatia
- Daniel Fernandes
- 19 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Me vejo aficionado por conhecer as mais diversas análises críticas em qualquer contexto. Minha paixão por histórias vem do desejo de compreender a subjetividade presente em livros, filmes, desenhos etc. É sempre enriquecedor conceber novas opiniões ou reformular as antigas, independentemente do contexto.
Com a Rachel Aviv reformei uma opinião, sinto que erradiquei um pré-conceito. Sempre tencionei desqualificar doenças mentais como algo sério, especialmente quando o contexto de vida da pessoa autodiagnosticada parecia incompatível com as perturbações mentais relatadas.
Isso aconteceu graças ao livro “Estranhos a Nós Mesmos” da jornalista e repórter Rachel Aviv. Eu me emocionei como nunca ao viver as histórias de Rachel (a própria autora), Ray, Bapu, Naomi, Laura e Hava, que passaram por casos médicos envolvendo instabilidade mental. O livro transmite a complexidade e o abismo de ser diagnosticado com uma doença mental e conviver com ela, em busca de tratamento e alívio.

As histórias são apresentadas de maneira única e crua, fazendo-me entender que, no contexto das doenças mentais, as diferenças sociais não determinam seu desenvolvimento ou tratamento. As condições de vida de uma pessoa, seja rica ou marginalizada, influenciam negativamente no desenvolvimento da instabilidade mental, especialmente quando desamparadas. A ausência de um tratamento adequado ou o acesso a tratamentos ineficazes agravam a condição de forma semelhante. A medicina psiquiátrica, historicamente, tem limitado as doenças mentais ao diagnóstico e não busca a verdadeira e profunda complexidade de cada caso. Cada ser humano é um universo, e Aviv deixa claro em suas histórias que cada caso vai além do diagnóstico.
Mesmo que duas pessoas possuam os mesmos diagnósticos, elas devem ser tratadas individualmente, sem padronização de terapias, medicações ou qualquer coisa que se aplique. A brilhante analogia de Aviv – “tente explicar o que é um latido para alguém que nunca viu um cachorro” – mostrou-me a dificuldade em entender a profundidade da instabilidade mental, até para médicos. Não há como compreender completamente essas experiências; cada qual deve ser vista como um “grito de socorro” e com olhar de atenção à subjetividade.
Minha percepção mudou: o que eu via anteriormente com desdenho ou pouca importância agora reconheço como experiências legítimas e complexas. Invalidar a veracidade e a subjetividade daqueles que relatam viver algo assim é crueldade baseada na ignorância. Mesmo que eu entendesse pessoas neste contexto como um médico psiquiatra, noto que o acolhimento e a compreensão individual da dor e da instabilidade mental traz alívio para alguém enclausurado em si mesmo.
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